terça-feira, 8 de junho de 2010

eu e Caetano(s)

A Rua dos Caetanos me escolheu hoje. Ou melhor, ela já havia me escolhido há uma semana, quando entrei nela a primeira vez. Na verdade, agora me ocorreu uma coisa… Será que foi ela mesmo quem me escolheu???

Não sei. Só sei que foram muitas coincidências de uma vez só. Do nada recomecei a ouvir muito Caetano Veloso (Sobretudo a música “nosso estranho amor”). O cão do meu novo chefe chama-se Caetano, por causa do Veloso. Um dia desses ao procurar a Rua do Século acabei por encontrar a dos Caetanos e me pareceu uma estranha coincidência.

Calor escaldante. Meio de tarde. Na minha caminhada pela curtíssima Rua dos Caetanos não fiz nenhuma pergunta sequer. Mal cheguei ela começou a me contar pencas de histórias. No começo não entendi o que aqueles milhares de Caetanos queriam co(A)ntar aos meu ouvidos.
Depois percebi.
Uma rua estreita, de 500 metros de extensão…
Nela, há pequeninas casas (como as de Olinda ou Ouro Preto), um café, uma editora de livros desativada, uma galeria de arte e o enorme prédio do conservatório nacional. Ah! E uma capelinha onde rezava uma dúzia de velhinhas. A rua me falou de mudanças, falou isso através do barulho duro de um martelo. Falou também de mundos paralelos. Misturou-se às marteladas o som de algum instrumento clássico (não identificado) vindo do conservatório.
A rua me convidou a entrar em alguns lugares. O primeiro deles foi uma galeria onde não havia ninguém. Digo, não havia ninguém que eu pudesse ver, pois ouvia-os. Ouvia-os falando em inglês numa espécie de reunião.
Reunião, pela construção quase que universal: um fala outros ouvem. depois outro emite uma segunda opinião. cria-se uma bagunça. todos falam ao mesmo tempo. todos de acalmam. tudo se reinicia.
Vozes percorrendo as salas onde rolava uma exposição interessante.
Explorei como pude a galeria. Até na sala do diretor entrei, senti-me uma espiã no meio de todas aquelas obras de arte com a câmera em mãos registrando tudo que era possível. Sai as pressas, pois ainda tinha muito o que ver.

[ AO SAIR SINTO DE NOVO CALOR, CLARIDADE E OUÇO O SOM DE ALGUM OUTRO INSTRUMENTO]

Tinha sido o primeiro universo que conheci Dos Caetanos.

“uma pessoa atira uma pedra muitas pessoas atiram muitas pedras”

Ao lado vi uma editora de livros desativada; “Livros do Brasil”.
“Curioso…” pensei. Tudo abandonado. Caetanos me disse que aquele lugar já tinha sido um universo paralelo, mas agora não passava de um cemitério de letras de livros perdidos.
Ao descer a rua vi as paredes pixadas, as janelas, as pessoas. Devaneei em algum pensamento que não sei qual foi… Algo como morte… ou foi uma música do Veloso que veio mente.
Pela janela vi um senhor dentro de um café (Café Doce Música). Ele também olhava pela janela. Opostos. Ele olhando de dentro pra fora. Eu de fora pra dentro. Será que ele pensava na morte ou será que tinha alguma música na mente?

Olhei as janelas. As janelas são indícios de outros mundos.

Os últimos minutos que passei com os Caetanos foi dentro de uma igrejinha onde havia acabado uma reunião de velhinhas que rezam o terço todos os dias as 17:30. Lembrei da minha mãe ao sentar no banco da igreja. Diz ela que a primeira vez que se entra numa igreja, podemos fazer um pedido. Dessa vez não fiz nenhum.
Ao sair vi a última resposta pra pergunta nenhuma. “You”. Eu? Agora eu estou aqui sentada num bar me perguntando “eu o quê?”. “Eu o quê, Caetanos?”.

2 comentários:

  1. Nunca vi essa rua, mas foi como se tivesse visto e vivido o que ela é, como a criança tomada pela mão, conduzida pelo adulto-escritor através de um lugar-poesia: veja, pequenino, quantas emoções moram aqui, em cada tijolo, em cada rastro de vida ecoando pelos cantinhos da rua dos Caetanos.
    bj

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  2. Que texto cheio de emoção e mistérios. Adorei, Sofia. Beijos e saudades.

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