segunda-feira, 28 de junho de 2010

A travessa e meus pesamentos perdidos.

A Travessa da Queimada me escolheu porque saí com o perfume “errado”.
Explico: coloquei o perfume que costumava usar no inverno aqui e os sentimentos do inverno vieram como lembranças.
Ontem lembrei quando procurei o número 17 pela primeira vez para uma entrevista de trabalho num dia gelado de fevereiro. Desde essa data não deixei a travessa. Hoje passo pelo menos seis dias da minha semana na Travessa da Queimada no Bairro Alto. Trabalho no bar do número 17.

Agora faço outra função. Mas no inverno trabalhei na porta do bar chamando turista pra entrar. Eu, a rua e o frio. Combinação perfeita para viajar em pensamentos. Fantasiei tanta coisa na calçada do número 17…
Ontem nos quarenta minutos que passei sentindo o cheiro do inverno só me fez ter a certeza que naqueles tempos estava apaixonada. É engraçado só ter consciência agora depois que tudo acabou.
“Estranho”, pensei.
Acho que a paixão facilita a gente suportar o frio.

Ps: essas fotos foram tiradas às 20:30. Agora, no verão, demora a escurecer. A imagem fotográfica que tenho do inverno é bem diferente.


quinta-feira, 17 de junho de 2010

a rua virou rio...


Dia: 16 de Junho de 2010
Hora: de tarde
Hora do relatório: de noite (claro ainda, aqui tá anoitecendo às 21:30. Incrível!)
Cidade: Lisboa. PT
Rua: ??

Comecei sem saber pra onde ia. No fundo no fundo, isso era o de menos. Eu só queria andar e andar. Resolvi pegar um autocarro que sempre pego, mas que nunca completo seu percurso. 706 (sentido Santa Apolônia). Fui. Cheguei na sua paragem terminal. Ao pé do rio Tejo. No rio tinham 2 navios militares. BEM parecidos com os de filme moderno. E não faltaram marinheiros neles. Todos com roupinha azul marinho, chapéu branco. Todos aparentemente BEM saudáveis. hehehe. Eu fiquei um tempo ali. Parada olhando pro primeiro navio monstro!! Encantada. Não é todo dia que você vê um navio daqueles. Eu até parecia num filme. Alguns marinheiros "popeyes" acenaram pra mim. Também, eu tava com um vestido vermelho/vinho. Cabelo vermelho que quando bate o sol… óculos grande… eu não era uma figura discreta naquele momento. E estava só. Parada. Olhando pro monstro, abestalhada. Quando acenaram, fiquei sem graça e resolvi caminhar em direção à praça do comércio. pensei em como minha vida seria se eu estivesse na missão daqueles marinheiros. no mar. vindo da espanha e indo pra qualquer outro lugar. na praça do comércio tem uma espécie de saída pro rio e uns banquinhos. É o meu segundo lugar preferido, depois do jardim da estrela e Gunbienkan, empatados. Durante essa relativamente, longa caminhada… meus pensamentos foram muitos. Nessa rua, não consegui focar em nada, eu estava andando e pensando em tudo e ao mesmo tempo em nada. Estranho?
O que mais ficou marcado nessa caminhada, foi o balanço desse ano aqui. Incrível como você ganha e perde coisas. Como você amadurece. Como você sofre e ri de um minuto pro outro. Se me perguntarem se esse ano passou rápido, vou dizer que ele passou no seu tempo. Se chorei de saudades, menos do que pensei que fosse chorar. Se eu voltaria, claro. Esse ano foi de uma grandeza de vida que não posso comentar aqui. Perdi coisas importantes, mas ganhei coisas preciosas. sempre dois lados.. ou vários!

O Tejo é lindo.

O sol de Lisboa tem canção.

O solo tem inspiração.

Nessa caminhada, a saudade do que não foi, foi grande. A saudade do amanhã que vai ser passado, Lisboa, vai ser enorme.
Qual era o nome da rua/avenida? Não vi, mas a paragem do autocarro, dizia: casa conto. Estranho?

Eu já disse que o Tejo é lindo?

Eu já disse que o vento de Lisboa hoje tava na medida certa?

Nós somos feitos de lembranças, referências, histórias… tudo é lembrança, desde que se viva, acho. O que não foi, não pode ser… foi esse o gostinho que tive nessa caminhada.
Quando eu sento perto dele, Tejo, meu olho brilha como o sol refletindo nas suas águas. Tanta coisa na cabeça. Tenta coisa pra saber…

tanta coisa...


dulce

quarta-feira, 16 de junho de 2010

minha rua libertadora


Dia: 24 de Maio de 2010
Hora: 16h30 – 17h10
Hora do relatório: 23:30 de 25 de Maio.
Cidade: Lisboa. PT
Rua: Avenida da Liberdade (upgrade)

….

Não me perdi pra achar esse espaço. Me perdi no espaço. A avenida mais bonita de Lisboa. E tem o nome mais bonito pra mim. De um lado uma estátua enorme de um tal de Marquês de Pombal, que dizem ter reconstruído uma parte de Lisboa depois de um bafafá climático em algum século passado. Ele, lá de cima, bem de cima mesmo, olha pra tudo que refez… com cara de valente, de alguém que sabe o que fazer na hora do aperto. Eu lá embaixo, lá embaixo mesmo. Pequena. Pensativa. Uma avenida tão grande e eu tão pequetitinha. Me senti assim. Me sinto assim. Confusões que não quero dizer aqui. Não consigo, não posso. Coisas minhas que queria que passassem como os carros passavam por mim. Caravelas nos postes. Árvores de primavera. Bancos de madeiras onde me sentei e fiquei parada pensando em…
Pensar não me ajudou mais ou me ajudou menos, pensar me fez ter certezas. Pensar me fez parar e respirar.
Pronta pra outra.
Pronta pra levantar e olhar o fundo da avenida. Lá longe. Lá longe. A liberdade era verde escura, céu azul claro e vento… muito vento… até as avenidas precisam respirar.
No que pensei não interessa, é bem meu. Mas o importante é que pensei. Conclusões nem sempre vingam. Não importa o quão bem traçado é o seu plano, sempre você pode se deparar com as variáveis Incontroláveis. Paciência.
O meu plano era…
Agora não é mais!
Vento que leva o pólen, que assanha meu cabelo, que me faz parecer uma louca. Vento que sopra no vão da avenida de inúmeras histórias e que agora tem mais uma. A minha. Lá contei meu plano e lá também, caiu um cisco no meu olho. Variáveis INCONTROLÁVEIS. Risos.

dulce

terça-feira, 8 de junho de 2010

mistério 1 de du


Dia: 12 de Maio de 2010
Hora: 17h30 – 18h10
Hora do relatório: 18h30
Cidade: Lisboa. PT
Rua: Ferreira Lapa (minha casa)


Nada melhor do que a rua da sua casa. Mesmo que de alguma forma você ainda não se sinta em casa. Como na verdade não está. Longe de tudo que era “seu”, de tudo que você de certa forma construiu em 25 anos de existência num plano. A minha casa não é onde piso hoje, mas era onde pisava há 1 ano? A nossa casa é um estado de espírito? Onde me sinto bem, à vontade? Onde eu presto pra algo? Onde me conhecem e param pra me cumprimentar? O que é a minha casa? Asfalto, paralelepípedos, muros, janelas, prédios, azulejos, pedras daqui ou daí? Areia ou terra? Cristais de luz do sol que é o daqui e o daí? A minha casa sou eu, mas comigo caminham cenas, pessoas, momentos, tempo. Minha casa sou ou minha casa é? A minha rua é uma ladeira e ela não tem saída. A minha casa, eu, tem, tenho, saída. O mundo é minha casa, mas o mundo sou eu. Um pedacinho aqui, retira um tiquinho lá, e assim me formo, com as formas do mundo, da minha casa. A rua da minha casa antiga de 4 andares e escadas de madeira velha é sem saída, mas minha casa é a porta de entrada pra tudo. E a saudade de casa, contradição, vibra a cada momento. Vibra saudade de casa! Vibra que um dia eu, casa, me encontro com você, casa. (a mente voa e os pensamentos também… os devaneios seguem como” ilegíveis” aos olhos de quem não vê aqui dentro de mim o que acontece. Paciência. Risos)

dulce

ps: hj, 8 de junho, choveu em lisboa e eu tomei banho de chuva na minha rua e me senti um tico mais em casa!

eu e Caetano(s)

A Rua dos Caetanos me escolheu hoje. Ou melhor, ela já havia me escolhido há uma semana, quando entrei nela a primeira vez. Na verdade, agora me ocorreu uma coisa… Será que foi ela mesmo quem me escolheu???

Não sei. Só sei que foram muitas coincidências de uma vez só. Do nada recomecei a ouvir muito Caetano Veloso (Sobretudo a música “nosso estranho amor”). O cão do meu novo chefe chama-se Caetano, por causa do Veloso. Um dia desses ao procurar a Rua do Século acabei por encontrar a dos Caetanos e me pareceu uma estranha coincidência.

Calor escaldante. Meio de tarde. Na minha caminhada pela curtíssima Rua dos Caetanos não fiz nenhuma pergunta sequer. Mal cheguei ela começou a me contar pencas de histórias. No começo não entendi o que aqueles milhares de Caetanos queriam co(A)ntar aos meu ouvidos.
Depois percebi.
Uma rua estreita, de 500 metros de extensão…
Nela, há pequeninas casas (como as de Olinda ou Ouro Preto), um café, uma editora de livros desativada, uma galeria de arte e o enorme prédio do conservatório nacional. Ah! E uma capelinha onde rezava uma dúzia de velhinhas. A rua me falou de mudanças, falou isso através do barulho duro de um martelo. Falou também de mundos paralelos. Misturou-se às marteladas o som de algum instrumento clássico (não identificado) vindo do conservatório.
A rua me convidou a entrar em alguns lugares. O primeiro deles foi uma galeria onde não havia ninguém. Digo, não havia ninguém que eu pudesse ver, pois ouvia-os. Ouvia-os falando em inglês numa espécie de reunião.
Reunião, pela construção quase que universal: um fala outros ouvem. depois outro emite uma segunda opinião. cria-se uma bagunça. todos falam ao mesmo tempo. todos de acalmam. tudo se reinicia.
Vozes percorrendo as salas onde rolava uma exposição interessante.
Explorei como pude a galeria. Até na sala do diretor entrei, senti-me uma espiã no meio de todas aquelas obras de arte com a câmera em mãos registrando tudo que era possível. Sai as pressas, pois ainda tinha muito o que ver.

[ AO SAIR SINTO DE NOVO CALOR, CLARIDADE E OUÇO O SOM DE ALGUM OUTRO INSTRUMENTO]

Tinha sido o primeiro universo que conheci Dos Caetanos.

“uma pessoa atira uma pedra muitas pessoas atiram muitas pedras”

Ao lado vi uma editora de livros desativada; “Livros do Brasil”.
“Curioso…” pensei. Tudo abandonado. Caetanos me disse que aquele lugar já tinha sido um universo paralelo, mas agora não passava de um cemitério de letras de livros perdidos.
Ao descer a rua vi as paredes pixadas, as janelas, as pessoas. Devaneei em algum pensamento que não sei qual foi… Algo como morte… ou foi uma música do Veloso que veio mente.
Pela janela vi um senhor dentro de um café (Café Doce Música). Ele também olhava pela janela. Opostos. Ele olhando de dentro pra fora. Eu de fora pra dentro. Será que ele pensava na morte ou será que tinha alguma música na mente?

Olhei as janelas. As janelas são indícios de outros mundos.

Os últimos minutos que passei com os Caetanos foi dentro de uma igrejinha onde havia acabado uma reunião de velhinhas que rezam o terço todos os dias as 17:30. Lembrei da minha mãe ao sentar no banco da igreja. Diz ela que a primeira vez que se entra numa igreja, podemos fazer um pedido. Dessa vez não fiz nenhum.
Ao sair vi a última resposta pra pergunta nenhuma. “You”. Eu? Agora eu estou aqui sentada num bar me perguntando “eu o quê?”. “Eu o quê, Caetanos?”.

Contando caetano(s) em imagens...